
“Tudo me cansa, mesmo o que não me cansa.
A minha alegria é tão dolorosa como a minha dor.
Quem me dera ser uma criança pondo barcos de papel num tanque de quinta,
com um dossel rústico de entrelaçamentos de parreira pondo xadrezes de luz e sombra verde nos reflexos sombrios da pouca água.
Entre mim e a vida há um vidro ténue.
Entre mim e a vida há um vidro ténue.
Por mais nitidamente que eu veja e compreenda a vida,
eu não posso lhe tocar.
Raciocinar a minha tristeza? Para quê, se o raciocínio é um esforço?
E quem é triste não pode esforçar-se.
Nem mesmo abdico daqueles gestos banais da vida
de que eu tanto quereria abdicar.
Abdicar é um esforço, e eu não possuo o de alma com que esforçar-me.
Os meus sonhos são um refúgio estúpido,
Os meus sonhos são um refúgio estúpido,
como um guarda chuva contra um raio.
Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e actos.
Sou tão inerte, tão pobrezinho, tão falho de gestos e actos.
Por mais que por mim me embrenhe,
todos os atalhos do meu sonho vão dar a clareiras de angústia.
Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge.
Mesmo eu, o que sonha tanto, tenho intervalos em que o sonho me foge.
Então as coisas aparecem-me nítidas.
Esvai-se a névoa de quem me cerco.
E todas as arestas visíveis ferem a carne da minha alma.
Todas as durezas olhadas me magoam o conhêce-las durezas.
Todos os pesos visíveis de objectos me pesam por a alma dentro.
A minha vida...
A minha vida...
é como se me batessem com ela.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário